segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O que faz valer a pena

Cursar uma graduação em saúde, especialmente Medicina, é uma jornada cansativa, luta diária que exige muita dedicação e é repleta de ansiedade, o que costuma exaurir nossas forças também. São 6 anos de muita leitura, muita prática, algumas vitórias, algumas ilusões, decepções etc. A vida pessoal chega a ser esquecida por vezes. Mas tudo isso tem uma razão especial. Lidar com pessoas diferentes, suas peculiaridades, histórias de vida, quase sempre um ensinamento pra nós. E cada história é uma oportunidade de acrescentar algo da valor na vida. Nós contribuímos com a promoção da saúde do paciente, e ele nos retribui com um gesto de carinho, de gratidão. Isso é o que faz valer a pena.
Lembro aqui uma paciente muito especial que conheci na enfermaria de Neurologia de um hospital público de Sobral. Na primeira vez que a vi, visando colher sua história clínica e realizar exames neurológicos, senti algo especial por ela. Suas palavras simples, o jeito de olhar, o aspecto maternal, fizeram-me prolongar um pouco mais nossa conversa. O tumor cerebral que a acometia não retirou-lhe os valores humanos conquistados com o tempo. De modo natural (e menos investigativo) contei-lhe um pouco da minha história também, afinal os pacientes se interessam muito em saber sobre aqueles "homens e mulheres de branco". Alguns dias depois, reencontramo-nos novamente na enfermaria. Ela já havia sido operada. Acompanhada da filha, ela esboçou um sorriso emocionado, apesar da expressão facial de cansaço pelos momentos sofridos. Ela se lembrou de mim, e isso me deixou muito feliz, principalmente quando me chamou de "meu filho". Nós ficamos um bom tempo proseando, falando sobre família, amigos, cidades de origem etc. Queria eu ter todo o tempo do mundo pra poder ficar conversando com aquela agradável senhora, poder fazer-lhe esquecer de tudo de ruim que já passou, poder amenizar sua dor, ser alguém sempre por perto. Mas infelizmente, não é assim que as coisas acontecem. Minhas obrigações como estudante limitam meu tempo para outros afazeres. Ao me despedir, recebi o mais carinhoso, terno e demorado abraço que poderia ter naquele momento. Em lágrimas, ela me agradecia, apesar de eu ter feito quase nada, desejou-me as melhores bênçãos, tais como as que minha mãe me deseja diariamente em suas orações. Senti-me pleno, satisfeito pelo que eu escolhi fazer, por ter escolhido estar de perto das pessoas. Depois, em silêncio, agradeci a Deus por me proporcionar esses momentos, que, de tão especiais, fazem qualquer esforço valer a pena.

2 comentários:

  1. Poxa, me emocionei! Muito lindo esse texto!
    Realmente, a gente se depara com tantos desafios e com tantas perdas que, algumas vezes, chegamos a nos questionar o porquê de querermos Medicina. Acho que essa história responde muito bem a essa dúvida! É pela busca da felicidade do próximo que enfrentamos todos os desafios!
    Parabéns, Alexandre! Adoro ler o seu blog!

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  2. Alexandre, que aconchegante ler esse relato. Sua postura diante dessa senhora é um exemplo para todos os profissionais, não apenas da medicina. E isso diz do envolvimento que se tem com o que se faz, do amor pelo fazer/saber. Que você não perca de vista essa sua qualidade e que ela continue inspirando profissionais das mais diversas categorias, como eu, uma futura psicóloga. Um abraço, querido!

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