terça-feira, 22 de novembro de 2011

Se o marido não deixa o cigarro, então deixe o marido

Toda essa campanha anti-tabagista na mídia lembrou-me uma paciente que eu e meus colegas atendemos há uns dias. Ela apresentava crises asmáticas desde a infância, mas nos últimos meses têm se intensificado. Ao longo entrevista, em que abordamos toda a sua história clínica, ela nos revelou que seu marido é fumante. E o pior: fuma dentro de casa. Como se não bastasse ela ser asmática, o filho pequeno também o é. Triplo problema: mãe doente, filho doente e marido que fuma. Ainda diria que há um quarto problema: o marido não só não quer para de fumar como também leva amigos fumantes pra casa. Ok, ficou estarrecido(a)? Nós também ficamos. Ainda disse que suas tentativas de convencê-lo a não fumar, ou pelo menos não em casa, foram todas frustradas. Ai, como o atendimento médico também consiste em orientar o paciente, fizemos recomendações básicas: conversar com o marido, aconselhando-o a parar de fumar, a não levar amigos fumantes pra casa, a zelar pela saúde da família...etc, etc. Mas sabe mesmo o que eu tive vontade de dizer? Se você leu e lembra o título desta postagem, já está sabendo. 

domingo, 20 de novembro de 2011

Medicina, política e desrespeito

A Medicina sempre esteve ligada à História. No Brasil, não foi diferente, principalmente quando se trata de história política e social. Semana passada, uma imagem foi bastante veiculada nas mídias audiovisuais e redes sociais. O ex-presidente Lula, há anos ostentando aquela imagem parruda de homem barbado, apareceu sem os volumosos pêlos faciais e, mais ainda, careca. Contraste de imagens? Descaracterização de um homem a cuja personalidade outrora atribuiu-se uma imagem própria? Não. É um paciente que está em tratamento para uma doença grave. Isso bastaria para que fosse respeitada a sua condição de doente. O que dizer das inúmeras piadinhas nas grandes redes, dirigindo-se a ele de modo pejorativo e humilhante? Não faço aqui jogo de ideias, muito menos levanto bandeira política, mas cabe aqui meu papel de reflexão sobre aspectos da saúde e a relação com os pacientes. Em se tratando de doença, não há espaço para brincadeiras. Aquela imagem não era apenas a do ex-presidente da República, mas também de um cidadão que estava enfrentando um dos maiores desafios da sua vida, se não o maior: viver. O respeito deve ser geral, irrestrito e sem distinção de pessoa. E pronto. Agora, ficar questionando como e onde o tratamento vai ser feito, se deveria ou não ser feito no SUS, coisa e tal, é um pouco tanto hipócrita. Ou vão me dizer que os autores das piadinhas também não gostariam de ser tratados no melhor hospital, com a melhor equipe médica e com o melhor da tecnologia em saúde, se também tivessem condição? Não é assim que se avalia a qualidade do sistema de saúde ou a sensibilidade do ex-presidente para os problemas da saúde pública no país. História, Medicina e política se confundem aqui. Só não há espaço para o desrespeito com um paciente, seja ele quem for. 

Novidade no JP

JP está de volta e traz novidades em seu layout. Como acontece em Medicina, nosso blog também está em constante transformação. Espero contar cada vez mais com a participação dos caros colegas na construção desse projeto. Abraço a todos.

Alexandre Silva