quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ao lado do leito

Inúmeros pacientes, inúmeros problemas, inúmeras dores. Uma enfermaria de qualquer hospital pode ser descrita assim. Médicos, enfermeiros, auxiliares e outros profissionais desdobram-se para proporcionar um pouco mais de conforto diante da saúde frágil dos enfermos. Mas, às vezes, esquecemos que ao lado da maioria dos pacientes existe alguém que também sofre por ter seu ente querido naquela situação. São pais, mães, filhos, tios, primos, amigos, que vivem num estado de ansiedade que, se paramos um pouco observando-os, seremos capazes de sentir e de nos comover. Eles também são pacientes, são dignos de atenção. Recordo-me de uma situação que presenciei na enfermaria de um hospital público de Sobral. Havia uma criança de 4 anos no leito pediátrico, recém-admitida por crises de epilepsia. Ao lado do leito, sua mãe chorava angustiada, sozinha numa cadeira de balanço já bastante envelhecida pelo tempo. Aproximando-me, perguntei à mãe o que havia se passado com a criança. Depois da resposta, senti que ela precisava dizer algo mais e ,então, dispus-me de modo que ela pudesse falar. Sem rodeios, ela disse:
_ Doutor, ela não me reconhece! Ela não me chama de mãe! Mas eu sou  mãe dela...
Eu entendi o que se passava e percebi que ninguém naquela enfermaria disponibilizou um pouco do seu tempo pra explicar para aquela mãe angustiada o que representava o comportamento da filha. Conferi o prontuário pra me certificar do medicamento em uso e expliquei que a reação da criança era um efeito adverso, um efeito colateral comum e bastante frequente quando da administração de Fenitoína, um anticonvulsivante, ou seja, confusão mental, alteração comportamental, alteração do estado de ânimo etc. Bastou alguns minutos, e a mãe já se reconfortava com o que de fato acontecia com sua criança. É verdade que, às vezes, precisamos ter sensibilidade para percebermos que o sofrimento pode estar também no acompanhante, bem o lado do leito.

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