sábado, 12 de fevereiro de 2011

80% dos brasileiros poderiam ser imunizados contra a AIDS


Um estudo epidemiológico realizado por uma equipe do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), em conjunto com o Futures Institute e a International Aids Vaccine Initiative (Iavi), estimou o potencial impacto que a medida teria, no país, na redução do número de novas infecções, mortes e pessoas que recebem tratamento antirretroviral, tendo como base diferentes cenários e grupos de risco. Publicada na revista científica internacional PLoS One, a pesquisa apontou, considerando a introdução de uma vacina no Brasil em 2015, reduções de até 73% no número de novas infecções e de 30% no número de mortes no período que iria até 2050 - quando 80% da população adulta entre 15 e 49 anos estariam imunizados por uma vacina de 40% de eficácia.
Segundo os autores, a epidemia de Aids no Brasil continua concentrada em populações de alta vulnerabilidade à infecção por HIV. Embora esta ocorra em pessoas acima de 50 anos de idade, o percentual é menor do que 10%, o que fez os pesquisadores considerarem como grupo de médio risco pessoas de 15 a 49 anos. Nesse sentido, usuários de drogas, homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e seus clientes, e pessoas que têm mais de um parceiro sexual em um ano são classificados como grupos de alto risco, podendo ser os principais alvos para a suposta vacina.
Com a finalidade de averiguar o impacto do imunizante no curso futuro da epidemia, os pesquisadores, inicialmente, modelaram a epidemia de Aids no Brasil até 2007 e simularam como esta caminharia até 2050, caso permanecessem estáveis as medidas de prevenção e a cobertura de pacientes em tratamento, mantendo, assim, a prevalência do HIV estável ao longo do período. Sem qualquer nova intervenção, a projeção indicou mais de 1 milhão de novas infecções e quase 500 mil mortes, de 2010 a 2050. Porém, em um cenário em que as populações de médio e alto risco fossem vacinadas com um imunizante 40% eficaz, a medida resultaria na redução de 52% do número de novas infecções e de 21% da quantidade de mortes devido ao HIV. " Certamente, uma vacina 70% efetiva aplicada na população em geral resultaria em um impacto mais significativo, interferindo drasticamente na epidemia brasileira pela redução de 92% do número de novas infecções, de 2020 a 2050" , estimam os autores.
Outras situações foram avaliadas a fim de verificar a relevância de fatores que podem diminuir ou interferir no impacto da vacina, como comportamentos de desinibição, ou seja, a redução do uso de preservativos, por exemplo, e falhas no alcance e na vacinação de populações de maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Dois cenários foram considerados para a observação da importância do comportamento de desinibição. No primeiro, o número de novas infecções foi reduzido em 42% (em vez de 73%) quando a população foi vacinada com uma vacina de baixa eficácia e gradualmente diminuiu o uso de preservativos. No segundo, o estudo apresentou até um aumento de 8,5% no número de novas infecções, em uma projeção em que 50% da população de médio e alto risco vacinados imediatamente pararam de usar camisinha.
" O impacto potencial de uma vacina de eficácia moderada, como indicado neste estudo, pode oferecer um poderoso argumento para a relevância de continuar investindo na pesquisa e no desenvolvimento de uma vacina, já que foram mostradas evidências de que esse esforço seria significativamente benéfico para o controle do HIV, mesmo em um contexto de epidemia concentrada" , explicam os pesquisadores. " Além disso, as conclusões do estudo relacionadas ao impacto de estratégias de vacinação podem demonstrar a importância de informar e acelerar discussões a respeito da produção de uma vacina e encorajar a adoção do produto no futuro, além de estimular a discussão sobre as melhores estratégias para atingir as populações mais vulneráveis à infecção pelo HIV." Os pesquisadores ressaltam que, na vigência de uma vacina imperfeita, as medidas de prevenção deverão ser mais reforçadas, sob o risco de aumentarem ainda mais as novas infecções, até porque o uso sistemático de preservativos também reduz a incidência das outras doenças sexualmente transmissíveis.
fonte: FIOCRUZ

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