quarta-feira, 13 de abril de 2011

Além do massacre, uma mente em conflito

O massacre de 12 crianças em uma escola no Rio de Janeiro comoveu o país e o mundo. Pequenos seres tiveram suas vidas interrompidas de modo brutal, violento. Como alguém é capaz de assassinar crianças inocentes? O propósito dessa postagem não é discutir o aspecto cruel do fato, até porque isso já está sendo feito de forma massiva pela mídia. Pretendo levantar aqui a discussão sobre saúde mental, bullying e seus efeitos para a personalidade das pessoas. A mente humana é complexa, e não há protótipos pré-estabelecidos¹. Será que em algum momento o autor dos crimes passou por uma avaliação psiquiátrica? Acompanho o noticiário na TV, mesmo com limitações de tempo, em que pude perceber que não se trata simplesmente de crueldade. É preciso avaliar além disso. Conhecidos de Wellington afirmaram que ele foi vítima de bullying quando criança, na escola onde estudou que a mesma do cenário do crime. Além disso, sua mãe era esquizofrênica, o que reforça o indício de que ele também fosse. Prova disso são os contatos com redes terroristas possivelmente inventadas por ele. Atentemos também para o extremismo religioso tão presente nos últimos registros deixados em vida. A carta, delírio de conteúdo místico e religioso² que Wellington escreveu, contém indícios do que ele possivelmente sofreu quando criança e ao longo da vida e dos reflexos que isso gerou em sua mente. Esse é o foco atual da Psiquiatria: é a vulnerabilidade genética de cada indivíduo ao estresse do meio ambiente, que pode desencadear vários transtornos mentais. Talvez o bullying tenha sido o "gatilho" que disparou o transtorno psiquiátrico de Wellington, que já teria uma predisposição genética.  A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico crônico, mas cujo tratamento é eficaz, com antipsicótico, terapia ocupacional e psicoterapia. Salvo situações de surtos psicóticos, os portadores desse transtorno não são agressivos e podem ter funcionalidade e serem reabilitadas. É importante sabermos que uma grande parcela da população é portadora de algum transtorno psiquiátrico, e o que é pior, uma parte desta não é tratada ou diagnosticada. A importância da saúde mental reside nessa questão também, para que situações como a do massacre do Realengo ou outras de menor gravidade sejam evitadas. E a sociedade precisa ser participante ativa nesse processo. Que essa tragédia não se resuma a dias e dias de lamentações, homenagens e exibições na mídia, mas que seja o ponto de partida para uma reflexão maior sobre saúde mental e a influência do meio no comportamento das pessoas, a exemplo do bullying e da esquizofrenia.



*1,2:  frases extraídas do texto "Massacre do Realengo-uma análise crítica", por  Joel Rennó Jr.

2 comentários:

  1. Muito boa a questão!
    Não sei se é falha minha, mas o que venho acompanhando nos noticiários é Apenas uma análise da "Violência Massacre". Não cheguei a ver nenhum jornal, até agora, mostrar ou pelo menos tentar mostrar uma análise psicológica mais aprofundada do rapaz. Só acusação por cima de acusação...
    E outra! Pra citar o exemplo do Orkut, que lamento muito as comunidades feitas para Wellington, do tipo: "COVARDE vai QUEIMAR no INFERNO", "Veja o ORKUT do Wellington Menezes de Oliveira VAGABUNDO!", e por aí vai...
    Não sei se estou defendendo ele, mas também não acuso cruelmente como estão fazendo...

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  2. O posicionamento da mídia deixa claro, mais uma vez, o quanto a sociedade se esquiva de assumir uma responsabilidade social eficaz. O sensacionalismo é covarde, porque não assume uma postura firme diante do enorme problema que está por trás desse massacre. O assassino é produto, também, da negligência da sociedade na construção de valores morais sólidos.
    O que revolta, também, é o incrível poder de esquecimento...daqui há alguns dias nem mais se ouvirá falar no caso, e ele se tornará, como muitos outros crimes hediondos que já noticiaram, simplesmente isso: um crime hediondo, sem que medidas sérias sejam tomadas para resolver o problema gerador de tudo isso.
    Portanto, concordo plenamente com tudo o que foi dito no post! Parabéns, Alexandre!

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