domingo, 17 de abril de 2011

Eu não quero tomar isso

O que fazer diante de um paciente que se recusa a seguir a recomendação e prescrição médicas? Durante atendimento no ambulatório, presenciei uma situação dessa. Acompanhada de sua mãe, a paciente entrou no consultório e observou-me com estranhamento, talvez por eu ser um jovem vestido de jaleco branco atrás de um birô. Pediu à mãe, em baixo tom de voz, que não me contasse nada, o que ouvi em sussurros. Ela era jovem (mais que eu) e sofria de Depressão há muito tempo, sendo tratada no CAPS local. Cumprimentei-as-as com um "bom dia" ao qual não obtive resposta por parte da moça. Contrariando a filha, a mãe começou a falar e entregou uma carta de recomendação do médico que encaminhou a paciente. O médico que eu acompanhava neste dia havia saído, mas voltou pouco tempo depois. Vendo aquele senhor com "cara de médico", a moça despertou e começou a falar também.
__Doutor, eu não quero mais tomar isso. (Falou, apontando com força para a receita médica da consulta anterior)
A paciente se queixava dos efeitos colaterais da medicação, negava-a com veemência. Reclamava de tudo, da vida, das pessoas, da mãe que estava ao lado, dos médicos que a atendem; só faltou reclamar de mim! Eu e o médico tentávamos convencê-la da necessidade de tomar os remédios, mas era trabalho perdido. Perguntamos se ela estudava ou trabalhava, ao que ela respondeu negativamente, inclusive com repúdio. Sua apatia pela vida era notória; não tinha ânimo para nada, nem para tratar a enxaqueca de que sofria também. Só reclamava, reclamava, reclamava e depois chorou.
__Ela não faz nada, doutor! Só come e dorme.__ Disse a mãe.
Consciente de que suas tentativas seriam frustradas, o médico consentiu em tirar um dos medicamentos ( o da enaqueca, já que um dos outros medicamentos que ela tomava tinha efeito semelhante), mas pediu à paciente que procurasse mudar seus hábitos de vida. Ela engoliu alguns choros, levantou-se e saiu do consultório sem se despedir. Educadamente, a mãe agradeceu e também saiu. Depois de tudo, refleti como é difícil convencer pacientes a cuidarem de si mesmo quando o que lhes falta, na verdade, é desejo pela vida.

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