sexta-feira, 11 de março de 2011

Eu só queria brincar o carnaval

Essa postagem é mais um registro de uma paciente especial. Recém-chegado de um Carnaval maravilhoso, fui incumbido de fazer a anamnese de uma paciente para apresentar o caso numa sessão clínica tradicional. Chegando ao leito a que fui destinado, fui surpreendido por uma reação de espanto da paciente. Era uma garotinha de 13 anos e que se queixava de fraqueza muscular e dormência nas pernas.
__por favor, injeção de novo não! O senhor não vai tirar mais sangue de mim não, né?!
Ela estava assutada, pois já haviam lhe tirado muito sangue, à custa de várias "furadas", como ela mesma referiu, e pensou que eu seria mais um a fazê-lo. Identifiquei-me como um estudante de Medicina que precisava colher algumas informações sobre sua história clínica. Foi contagiante o seu sorriso de alívio! Ela e sua mãe, uma senhora muito sorridente (dessas pessoas simples que não tiram um sorriso gostoso do rosto), começaram a me contar suas histórias. Sim, "suas" porque a mãe não perdeu a chance de falar sobre ela também.
A menina olhou bem para o jaleco e notou meu nome estampado, desabafando a seguir:
__Alexandre, eu só queria brincar o carnaval, correr na rua; minhas amigas todas foram para as festas e eu fiquei aqui.
A mãe começou a rir, o que se repetiu quase todas as vezes que a filha falava alguma coisa. A menina entediada de estar naquele leito de hospital desejava como nunca sair dali e poder voltar à sua vida normal. Sempre muito alegre, no auge da sua mocidade, com todos os trejeitos de uma pré-adolescente da geração Restart, mas ainda assim notava-se sua angústia pelo Carnaval perdido. Ao mesmo tempo em que eu a examinava, ela reagia como se os procedimentos do exame fossem brincadeira. Quisera nós que tivéssemos essa mesma visão das coisas...certamente, a vida seria muito mais simples.
 Falava alto, atendia o telefone e conversava com as amigas, enfim...era uma garota de 13 anos querendo viver o seu mundo longe daquele lugar onde os blocos não existem, as fantasias se desfazem e os foliões não saem na avenida.

4 comentários:

  1. Saudades das suas postagens...
    Essa me fez lembrar uma menina que eu colhi a história, que também estava com sua mãe. Agindo espontaneamente, me fez saltar aos olhos que somos nós quem vivemos a realidade de hospital, que eles têm - e precisam - de suas vidas longe dali!
    Belo texto!

    http://pacientesensinam.blogspot.com/

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  2. Gostei muito do texto, do relato. Isso nos faz lembrar que ter saúde, não-necessariamente é "estar sem doença"...
    A saúde dela seria brincar o carnaval, por mais que a medicina tradicional diga o contrário.

    Parabéns pela postagem! =D

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  3. Essa garota marcou mesmo!
    obrigado, pessoal!

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  4. É preciso sensibilidade para perceber as vidas e as histórias de cada um...

    Bem-aventurados os médicos sensíveis, porque deles é o coração de seus pacientes...

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