quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu rezo e mando pro "homem do anel"

Nos últimos anos, a Medicina tem se valido cada vez mais da alta tecnologia, do diagnóstico preciso baseado em imagens tridimensionais, em análises moleculares etc. Mas dificilmente isso vai desviar muitos pacientes da crença no chamado "setor popular" da assistência em saúde, no qual se incluem as rezadeiras, curandeiros etc. É sobre isso que escrevo aqui. Nessa quarta, dia 23, eu e um grupo de amigos da faculdade fomos conhecer uma umbandista (como ela se referia), afim de obter informações sobre a prática da Umbanda como atividade do módulo de Assistência Básica à Saúde. Claro que seria nosso primeiro contato, e que por isso estávamos um pouco nervosos, ou talvez fosse apenas curiosidade mesmo. Acompanhados da agente de saúde do bairro, chegamos ao terreiro de umbanda que fica contíguo à casa da mulher. Logo nos surpreendemos com a "decoração" do ambiente, cheio de imagens sacras e outras nem tão sacras assim, velas multicolores acesas, objetos enigmáticos que vez ou outra desviava nossa atenção da conversa com a senhora. Antes de iniciar a entrevista, ela nos pediu permissão para fumar um cigarro. Simples, carregada de simbolismo nas palavras, ela falou sobre seu trabalho como umbandista, como começou, de onde recebeu o dom, as pessoas que a procuravam, sempre se referindo a expressões típicas, as quais interrompíamos quando o significado delas não era compreendido. Uma vida de fenômenos sobrenaturais nos foi relatada, o que instigava ainda mais nossa curiosidade. Entre "atoações", giros, guias e entidades, ficávamos admirados com a riqueza simbólica dessas práticas e com a crença das pessoas, segundo o que ela nos contava. Interessante também perceber que ela não contradiz os médicos que atendem as pessoas que a procuram. Pelo contrário, ela recomenda que se faça exatamente como o médico orienta e ainda reforça o tratamento com preparações caseiras que ela ensina a fazer; são chás de tudo que se possa imaginar! Quase sempre, durante as consultas - sim, ela chama o serviço de Umbanda de consulta - ela orienta as pessoas que procurem o auxílio médico, após fazer o "trabalho".
__Eu rezo e mando pro "Homem do anel".
Ao final, despediu-se convidando-nos para a "festa do Boi-Preto", em breve. Confesso que fiquei curioso em saber como é essa festa. Enfim, foi muito interessante conhecer esse componente cultural tão vivo na vida de muitas pessoas, de diversas classes, que, independente de religião, acreditam que a fé pode curar. É mais um aprendizado para nossa formação como médicos enraizados na cultura do seu povo.

2 comentários:

  1. Alexandre,

    no semestre passado também realizamos uma pesquisa semelhante - infelizmente não teve "campo" - mas é interessante perceber a nossa inicial ignorância quanto a esse assunto!
    Muito bom tê-lo exposto de maneira tão clara aqui!

    ♦ http://pacientesensinam.blogspot.com/ ♦

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